O pintor da vida moderna.

(...) quem não percebe que o uso do pó-de-arroz, é tão inocentemente anatematizado pelos filósofos cândidos, tem como finalidade e como resultado fazer desaparecer da tez todas as manchas que a natureza aí semeou ultrajosamente, e criar uma unidade abstracta no grão na cor da pele, unidade que , como aquela que maillot produz, aproxima imediatamente o ser humano da estátua, isto é, de um ser divino e superior? Quando ao negro artificial que contorna o olho e ao rouge que marca a parte superior das faces, ainda que seu uso seja retirado do mesmo princípio , da necessidade de ultrapassar a natureza, o resultado produz-se para satisfazer uma necessidade bem oposta. O vermelho e o negro representam a vida, uma vida sobrenatural  e excessiva; este quadro negro torna o olhar mais profundo e mais singular, dá ao olho uma aparência mais a claridade da menina-do-olho e acrescenta a um belo rosto feminino a paixão misteriosa da prioresa.

Charles Baudelaire - O pintor da vida moderna.

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